segunda-feira, agosto 27

Uma noite dessas, estava em meu quarto, e era o único lugar do mundo em que eu queria estar. Faziam três dias que lá, era meu lugar preferido e de lá, só saia pra ir no banheiro .. Fase difícil! 
Minha mãe já estava impaciente. Ela por si só, já é um ser totalmente atordoado e afetado. 
De madrugada ela entrou no meu quarto, sentou na cama e perguntou se tudo estava bem. Depois de tanto resistir falando que eram apenas sintomas da sinusite e que de resto estava tudo em paz, resolvi falar que não, que absolutamente nada estava em paz. Ela conseguiu perguntar o porquê, e eu consegui responder:
" Tô infeliz. nada do que eu me proponho a fazer da certo. Nada acontece ao meu favor e minha vida não anda em direção nenhuma ".
Depois dessa minha resposta que foi ignorada, a nossa conversa virou um monólogo de como a vida dela é difícil, o quanto ela não consegue superar, o quanto tudo da errado e o quanto ela vive com intensidade todas as suas angustias. Eu ouvi absolutamente tudo. Vezes bufafa e tentava interromper, mas era em vão. Ela não parava de falar, reclamar, chorar. Fizemos um pequeno tour em sua vida e em suas angustias e eu consegui analisar que se eu não tiver bem, ela não pode enfim ficar mal. Ela precisa de alguém inteiro por perto, pra poder se despedaçar em segurança. Completamente auto destrutivo o ser me deu a vida...
Acabei dando um chá de animo na minha mãe, mesmo sabendo que não duraria uma semana. E no final eu disse: 
" Não é que eu ache ruim, mas a senhora entrou aqui pra saber como eu estava, e ainda não sabe. Não te culpo, eu entendo que quando estamos com problemas, não conseguimos ver ninguém. Mas não existiu uma única vez em que, eu tente te falar algo, e acabe te ouvindo ". Ela entendeu o que eu quis dizer, mas como ela já estava aliviada, o sono chegou, então ela me interrompeu, dizendo que precisava dormir, e ela foi e eu entendi. Sempre entendi sua forma de abordagem e sua forma gritar por atenção.
No dia seguinte acordei, meio que cambaleando, mas fui dar minhas cabeçadas...
Admiro e amo minha mãe. Ela, sem saber, me ajuda e me mostra nitidamente o que não fazer, como não ser e o que não cultivar. 
O que poderia ser mais fácil do que entender na prática consequências de más escolhas? Isso funciona melhor e de forma mais impactante do que horas e horas de sermões e injeções de animo. 
E eu via o lado bom de ser eu: minha válvula de escape era introspectiva, não afetava ninguém e sendo assim, eu era obrigada a ser adepta à auto cura, o " eu me viro " e sinceramente, eu sempre me virava.
No meu tempo, quebrava meus problemas em pequenos pedaços administráveis, pra não acumular, pra não engasgar, pra entender e talvez resolver sem perceber.
Presumi que sou uma boa companhia ...
Aline Tófalo.

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